No dia seguinte acordei mais cedo por falta de sono. Tomei um banho, peguei uma maça e deixei um bilhete sob a mesa. Eu iria dar uma volta por aí, para relaxar um pouco. Uma volta pela floresta e talvez me refrescaria no riacho.
Dessa vez resolvi usar uma montaria. Meus pés estavam doloridos, e eu não aguentaria andar muito.
Montei, então, no cavalo e segui para a área do riacho.
***
Ao chegar até o mesmo, olhei em volta para me certificar de que estava sozinha, e só então desci do cavalo e me aproximei de uma das rochas nos arredores do riacho. Tirei meus sapatos e a meia, e mergulhei meus pés na água. A sensação gélida do contato meus pés com a água fez com que eu estremecesse um pouco, e alguns fios de meus braços ficaram eretos. Fiquei ali por um tempo, relaxando, até que ouvi o som de alguém se aproximando. Um cavalo vindo rapidamente até ali.
Tirei meus pés imediatamente da água, peguei meus sapatos e levantei-me rapidamente, correndo em direção ao cavalo. Caso fosse alguém de pura maldade, eu já estava prevenida à fugir dali.
Porém não era ninguém de pura maldade, era Marcus.
Assim que ele me viu, montei-me em meu cavalo, disposta à sair dali rapidamente.
— Ei, Stella. — chamou-me, enquanto avançava em seu cavalo até mim.
Não respondi nada, apenas continuei a cavalgar, como se nada tivesse acontecido.
— Stella! — ele me chamou novamente, e ainda pude ouvir o som de seu cavalo cavalgando em minha direção.
Notando que eu não iria falar com ele, ele foi insistente e fez com que o cavalo aumentasse a velocidade, até que me ultrapassou, parando logo à minha frente e obrigando-me à parar.
— Por que não quer falar comigo? — Marcus desceu de seu cavalo e veio caminhando até mim.
Eu não respondi.
Ao invés de responder, desci do cavalo e puxei a corda de sua cela, fazendo-o caminhar de volta para o riacho. Algumas lágrimas caíram de meus olhos ao lembrar-me da noite passada. Da noite que fui submetida à deitar-me com alguém contra minha vontade, pela ausência de Marcus.
— Lhe fiz algo que não lhe agradou? — perguntou-me ele, caminhando ao meu lado, também puxando a corda da cela do cavalo.
Balancei a cabeça negativamente e continuei a andar.
— Tem como você passar lá no salão depois? Jonattas está em um dos quartos. À essa hora já deve ter acordado.. Leve-o para a casa dele e ajude-o a tratar da ressaca, que obviamente será das grandes. — disse eu, secando as lágrimas.
— Está certo.. Mas primeiro me diz o que você tem! — ele fez com que meu cavalo parasse e segurou em minha mão que segurava a corda.
— Você não tinha obrigação nenhuma de me ajudar, isso é fato, mas porque não apareceu nos dois dias? Graças à isso tive que me deitar com um desconhecido.. Você não tem noção do nojo que eu estou sentindo. — me derramei em lágrimas — O problema era dinheiro? Você sabe que não precisaria me pagar por este favor.. — continuei, chorosa.
— Eu.. Eu sinto muito, Stella. — ele me encarou, tristonho.
Sequei as lágrimas com violência e caminhei em direção ao riacho.
Marcus me seguiu em silêncio.
Coloquei meus sapatos no chão, e tirei meu chale jogando-o ao chão, também. Em seguida mergulhei. Nadei até uma rocha e encostei-me na mesma, brincando com a água. Marcus fez o mesmo, e nadou até mim.
— Vai acabar com o início de nossa amizade por uma falta de tempo minha? — disse Marcus, me encarando.
O encarei sem responder, e em seguida molhei seu rosto com um punhado de água. O mesmo soltou um riso e me encarou com uma expressão de quem iria aprontar. Em seguida mergulhou e puxou-me pelas pernas, fazendo-me mergulhar também.
Ao voltarmos para a superfície, ele ficou me encarando com um sorriso divertido nos lábios. Ficou à me analisar por um tempo, até que viu algo em mim que lhe chamou atenção.
— Você sempre teve isso? — ele se aproximou de mim e apontou para um sinal que tinha em minha testa.
— Sim. Fui mexer em uma gaiola de passarinho e a mesma caiu em minha testa, furando-a. Sobrevivi, porém essa marca nunca saiu daí. — passei a mão em minha testa e encarei Marcus.
— Engraçado. Presenciei uma antiga amiga minha fazendo o mesmo, ficou com a cicatriz no mesmo lugar.. — ele brincou com a água, enquanto falava.
O encarei perplexa.
— Você mora onde? — perguntei, analisando sua expressão.
— Numa fazenda aqui perto.. — Marcus respondeu-me, voltando a me olhar.
— Hum.. Sempre morou lá? — perguntei.
— Não. Vivi em um orfanato até meus 15 anos. Por que as perguntas? — ele me encarou, boiando na água.
— Nada.. — menti — Vou para casa, tenho coisas à fazer. — nadei até uma das rochas, e com um pouco de dificuldade, saí da água.
Na verdade não saí, eu praticamente fugi.
Marcus tinha as mesmas características que meu eterno amigo Marcus, que conheci no orfanato. Porém não existia apenas um Marcus no mundo, e tudo que eu menos queria naquele momento era criar expectativas sobre algo que nem tenho provas de que é verdade.
Assim que subi em meu cavalo, Marcus vestiu sua camisa de uma maneira meio desajeitada e correu para seu cavalo.
— Vou pegar uma carona com você até sua casa, para buscar Jonattas, ok? — disse ele, montando em seu cavalo e indo cavalgando para perto de mim.
Assenti a cabeça.
Logo comecei à cavalgar e Marcus fez o mesmo.
***
Ao chegarmos até a casa, peguei a chave do quarto e Marcus e eu seguimos até o mesmo, em busca de Jonattas. O mesmo já se encontrava de roupa, porém ainda estava deitado, aparentando estar super mal.
— Bonito, hein! — disse Marcus, cruzando os braços.
— Eu sei que sou, não precisa repetir isso. — sussurrou Jonattas, sem mover-se da cama.
Marcus logo o ajudou à se por de pé, e sem dificuldade alguma o carregou para fora do quarto. Assim que fechei a porta, eles me acompanharam até à saída dali.
— Espere aqui, vou trazer um café para ele. — disse eu, para Marcus, indo em direção ao outro lado da casa em seguida.
— Ela é tão boa moça e eu à feri, ontem. — pude ouvir Jonattas dizer à Marcus.
Adentrei a casa e fui rapidamente até a cozinha. As garotas se encontravam todas reunidas, tomando café da manhã e tagarelando.
— Onde foi, Tea? — perguntou Ronnie — Foi encontrar o moço daquele dia? — continuou, soltando um riso malicioso.
— Não. Quer dizer, não exatamente.. Ele que me encontrou por acaso. — disse eu, pegando duas xícaras e as enchendo de café.
— Ele está aí com você? — disse Luli, se colocando de pé rapidamente e correndo até a janela da cozinha, para ter uma visão do lado de fora da casa.
— Está, não só ele como o amigo também. — respondi, saindo da cozinha em seguida.
— A faminta está pegando os dois novatos, uau! — disse Ronnie, rindo um pouco em seguida.
Não lhe dei ouvidos e sai de casa. Segui apressadamente para onde Marcus e Jonattas estavam, e ao mesmo tempo tomando cuidado para não derramar o café.
— Aqui está. — dei uma das xícaras para Jonattas e a outra à Marcus.
— Não precisava.. Não estou de ressaca. — disse Marcus, devolvendo-me a xícara.
— Não é por ressaca, só quis ser gentil. Tome logo e deixa de frescuras. — devolvi a xícara à ele.
— Não precisa. — ele me devolveu novamente.
— Ele não gosta de café! — disse Jonattas, para mim.
Segurei a xícara e encarei Marcus.
Minhas mãos de repente começaram a tremer. Este era mais um sinal de que Marcus tinha muito haver com meu amigo Marcus.
— Você está bem? — perguntou-me Marcus, se aproximando de mim.
Balancei a cabeça negativamente.
Minhas mãos falharam e a xícara caiu no chão. Em seguida saí dali correndo, como uma criança assustada. Antes de entrar na casa, direcionei um olhar à Marcus — que me olhava sem entender — e em seguida corri para dentro.
***
— É ele, Dora, eu sinto que é. Os sinais são perfeitamente visíveis. — disse eu, chorosa.
— Se é, por que é que você não avisa à ele? Ele tem o direito de ser lembrado.. — disse Dora, acariciando meu cabelo.
— Não posso, não é 100% verdade. Não quero dar uma de louca e fazê-lo se afastar.. — chorei mais ainda, e apertei a almofada em que minha cabeça estava encostada sob o colo de Dora.
— Não importa se você fazer papel de louca.. Está claro que ele está interessado em você, então de maneira alguma ele irá fugir.. — disse Dora, sempre compreensiva.
— Como você tem certeza disso? — sentei-me na cama e a encarei.
— Intuição feminina.. — ela colocou uma mecha de meu cabelo por trás de minha orelha — Agora aja como uma mulher, e não como uma garotinha assustada. Marcus não é um bicho de 7 cabeças. — ordenou-me, passando o polegar em uma das minhas bochechas para secar uma lágrima que escapou.
— Obrigada, Dora. — sequei uma parte de meu rosto e a abracei forte.
***
Stella Merchant-A Garota De Sorrisos Ensaiados é uma web novela criada originalmente por Thais Ribeiro, uma garota de apenas 17 anos. A história é resumida basicamente em sofrimento, onde no começo se inicia contando o pior dos sofrimentos vividos pela garota Stella. Sendo assim, a mesma cresce amargurada e acaba por se transformar em uma garota de sorrisos ensaiados no qual tem como explicação a falta de motivos para sorrir.