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Capítulo 9: Repetição.
Capítulo 9: Repetição.

Levantei-me bem cedo no dia seguinte. Mal havia conseguido pregar os olhos durante a noite, mas ainda assim isso não foi suficiente para deixar-me na cama até bem tarde do dia.
Um dos motivos que justificam minha insônia é lembrar-me que noite passada não pude conversar com Marcus e dizer-lhe que ele é meu querido amigo que foi obrigada à deixar para trás quando levaram-me do orfanato. O outro motivo, era que tudo estava se repetindo; eu sendo obrigada à deixar quem eu amo, para trás, e partindo com estranhos. 

A dor agora era em dose dupla.

Dose dupla, pois além de ter que passar por despedidas dolorosas de novo —mesmo que temporárias, talvez — , as memórias me gritavam aos ouvidos coisas que eu não mais queria lembrar.

***

Após conseguir dispersar meus devaneios, me levantei da cama e segui até a porta. Meu corpo estava dolorido e exausto devido à noite mal dormida. Obviamente eu possuía olheiras profundas abaixo dos olhos, e também uma feição completamente desanimada.
Ao abrir a porta, tropecei em uma sacola que estava encostada em minha porta. Não cheguei à cair, porém o tropeço obrigou-me à me segurar na parede frente à porta do quarto.
Encurvei-me e peguei a sacola, abrindo a mesma em seguida e revelando algumas peças de roupa masculina. Encarei-as com expressão de duvida. Porém, logo minhas dúvidas desapareceram ao encontrar um bilhete onde estava escrito uma explicação do que eu faria com aquela roupa.
Após ler o bilhete, amacei o mesmo e segui para o banheiro levando comigo a sacola.

***

Desci para a cozinha mesmo sabendo que ninguém estaria lá e o café estaria longe de estar pronto. Caso estivesse pronto, ainda assim eu não tinha vontade de comer, meu estomago estava com um nó, provavelmente devido à angustia no qual eu estava sentindo em meu ser.
Aproximei-me da pia e peguei um dos copos que se encontravam no escorredor de louça, para tentar beber pelo menos um copo de água. Foi aí que pude ouvir o som de passos de cavalo se aproximando. Direcionei meu olhar para fora da janela e pude notar — com meu olhar extremamente saudável — que era Marcus. Senti meu coração palpitar forte ao vê-lo se aproximar cada vez mais da casa. Aproveitando que não havia nem sinal de sr. Tyler, corri para a porta e segui rapidamente ao encontro de Marcus.
Conforme fui me aproximando, pude notar que sua expressão não era nada agradável.

— Me diz que não é verdade! — disse ele, descendo do cavalo e seguindo rapidamente até mim.

— O que? — perguntei, confusa.

Marcus trincou os dentes e olhou para os lados. Em seguida respirou fundo e pude ver seus olhos lacrimejarem.

— Sua amiga me procurou e contou que você vai embora! — ele me encarou — Por que? — perguntou-me, enquanto dava mais alguns passos para perto de mim.

Me silenciei.

— Responde.. Por favor!? — implorou, pousando suas mãos sob meus ombros.

— Não quero envolver mais ninguém nisso.. E o aconselho de ir embora agora e não voltar mais aqui! Sera mais seguro, confie em mim.. — o encarei, um pouco chorosa.

— Vai me deixar de novo? — perguntou-me, inconformado.

De novo.

Ao digerir estas palavras, soei frio. Em seguida pude sentir minhas bochechas se corarem.

— Como assim? — perguntei, fingindo não entender.

— Pode parecer loucura e nem é 100 % certeza o que tenho à dizer, mas.. Stella, quando te vi pela primeira vez, algo dentro de mim dizia que nos conhecemos de algum lugar. Mas para mim não fazia sentido algum naquele momento. Mas depois nos encontramos de novo e de novo, e a cada conversa e momentos ao seu lado.. a cada breves instantes de observando, pude notar características idênticas à uma pessoa que conheci no passado. — explicou-me, sem desviar seu olhar dos meu.

Em silêncio, com os olhos lacrimejantes, enfiei umas das mãos dentro de uma bolsa que eu havia trazido comigo, e poucos segundos depois tirei um lenço perfeitamente dobrado. Entreguei o mesmo à Marcus enquanto tentava conter minhas emoções. 
O momento foi tenso. Agora era o momento da verdade. A todo instante eu desviava olhares pelo céu azulado, pedindo à Deus para que Marcus e eu não tenhamos errado de pessoa.

— Meu Deus.. — disse Marcus, num tom baixo, assim que desdobrou o lenço revelando um bilhete amarelado devido à sua antiguidade — Stella. — ele me encarou e sorriu.


A emoção estava transparente em sua feição. E antes que eu falasse qualquer coisa, lágrimas transbordaram de meus olhos sem controle. Marcus não disse mais nada. Ao invés de palavras, resolveu partir para atitudes. 
Guardou o bilhete juntamente com o lenço em seu bolso, e puxou-me para perto, dando-me um abraço apertado em seguida. O melhor que eu já havia recebido em toda minha vida. Era repleto de saudade e ansiosidade.

Ficamos abraçados por longos minutos.

— Me deixa cumprir com minha promessa? Eu vim à cavalo e podemos fugir rapidamente daqui.. — disse Marcus, desapertando o abraço e me encarando, esperançoso.

Involuntariamente olhei para trás e pude notar uma presença na janela. Após alguns segundos encarando, pude notar que era sr. Tyler. 
Voltei-me para Marcus e o mesmo ainda possuía a mesma expressão esperançosa.

— Como eu havia dito, é melhor você ir embora! — desviei o olhar, chorosa.

— Por que? — ele me encarou, sem entender.

— Não é seguro estar comigo.. E como você sabe, eu vou embora! — sequei as lágrimas que haviam escapado.

— Vai deixar a mesma cena dolorosa de despedida se repetir de novo? — disse Marcus, inconsolável.

Um nó de desespero se formou em minha garganta impedindo-me de responder.

— Responde! — insistiu Marcus, pegando em uma de minhas mãos e me encarando.

— Sinto muito.. — foi só o que eu conseguir dizer antes de começar a chorar.

Creio que tal frase soou como "sim", pois Marcus soltou minha mão imediatamente e tentou conter seu desapontamento e disfarçar o sofrimento perfeitamente visível em seus olhos.
Notando que as lágrimas estavam prestes à escapar de seus olhos também, Marcus virou-se rapidamente para sair dali.

Chorei mais ainda.

Uma pontada de adrenalina tocou em meu ser fazendo-me avançar até Marcus. Era idiota de minha parte deixá-lo escapar entre meus dedos novamente, e justo agora que posso escolher entre ficar onde estou ou partir. 

— Marcus! — toquei em seu ombro, fazendo-o parar com seus apressados passos.

Marcus esfregou seus olhos com força antes de virar-se para mim. Quando virou-se, pude notar uma certa vermelhidão em seus olhos. Havia também sofrimento, mesmo que Marcus tentasse disfarçar juntando as sobrancelhas numa expressão de raiva.

— Marcus, eu.. eu só.. — eu não sabia o que dizer à ele, mas só queria que ele não partisse daquela forma e estregasse nosso reencontro.

— Diz logo, eu tenho que trabalhar! — disse Marcus, áspero.

— Marcus, eu não sei.. eu.. eu.. — tentei encontrar alguma frase que, talvez, iniciasse um breve assunto, porém as palavras falharam comigo.

— Tenho que ir! — Marcus deu um passo para trás para continuar a se aproximar de seu cavalo para ir embora.

— Espera! — segurei em um de seus braços e o puxei de um jeito desajeitado para mim.

Conforme a rapidez que o puxei, ele virou-se aos tropeços para mim. Nossos corpos ficaram tão próximos que pude sentir sua respiração agitada e sentir o leve cheiro de ortelã em seu álito.
Numa impulsividade da adrenalina em meu ser, puxei seu rosto para próximo ao meu, segurando em sua nuca. Pensei que ele recuaria, porém retribuiu o beijo de imediato, como se esperasse por isso à muito tempo. O beijo havia uma certa ansiosidade, porém a inocência estava mais presente ali.
Quando finalizamos o beijo, nos encaramos com um pouco de timidez. Nunca nos passou pela cabeça que de uma amizade inocente de anos atrás, futuramente resultaria à um beijo apaixonante, o que levaria à mudar os sentimentos. De uma amizade inocente à um amor incondicional.

— Te peço pela milésima vez: fica! — Marcus acariciou as maças rosadas de meu rosto, sem tirar seus olhos da direção dos meus.

— Eu não posso.. No momento não posso te dizer os motivos por questão de segurança. Só te peço que vá embora da cidade, só por um tempo! — supliquei.

— O beijo significou algo à você? — perguntou-me, Marcus, novamente sério.

— Sim, e muito! — respondi.

— Então fica. Eu lhe proporcionarei melhores beijos a cada vez que estivermos juntos! — ele sorriu, e em seguida selou meus lábios com força.

— Eu não posso, já disse. Tente me entender.. Prometo que não ficarei longe por muito tempo! — expliquei.

— Stella, venha tomar seu café. Vamos sair em poucos minutos! — gritou-me, sr Tyler, ao surgir na porta.

— Estou sem fome! — respondi no mesmo tom, e logo voltei-me para Marcus — Por favor, vá embora.. — supliquei.

Marcus balançou a cabeça negativamente ainda aparentando inconformação.

— Seja lá o que for, você não precisa ir.. Não agora! Justo agora que nos encontramos.. — disse Marcus, me encarando.

— Preciso sim, vai logo. — tirei suas mãos de meu rosto e me afastei, chorosa.

— Se você for, me esqueça! — declarou Marcus, com a voz quase falha.

— Por favor, me entenda! — implorei, começando a chorar em seguida.

— Eu te entendo, só estou tentando fazê-la ficar! — ele deu alguns passos para aproximar-se de mim novamente.

— Stella, vá se despedir de todos, nós já vamos. — gritou, sr. Tyler, novamente.

— Já vou. — respondi.

— Não acredito que você vai com ele! — disse Marcus, furioso.

— Não tenho outra opção! — sequei meu rosto com as mangas da camisa maior do que eu, que eu vestia.

— Você mudou muito.. E olha que você dizia nada nem ninguém te mudaria. Mas como diz o ditado: "não cospe para o alto que cai na testa!" — ao acabar de falar, Marcus virou-se e seguiu para perto de seu cavalo.

Dessa vez não o impediu e o deixei partir para longe de mim novamente.

***

Minha nova despedida foi mais dolorosa do que a primeira. Um dos motivos é que sem querer acabei me encantando por Marcus, e ainda assim fui injusta com ele por ter que partir e deixá-lo novamente.
Outro motivo é que eu era rodeada de mulheres, e mulheres geralmente são sensíveis e choram por quase tudo. Então, da para se imaginar a quantidade de lágrimas que foram derramadas nesta nova despedida, não é?
Chego à pensar que a vida não suporta me ver de bem com ela. Sempre acontece algo que me deixa péssima e tira qualquer pontada de alegria em meu ser, dificultando minhas tentativas de sorrir novamente. Ao invés da vida trazer repetições de momentos bons que já vivi, preferiu me ferir novamente com momentos que massacraram meu coração no passado.

***

Stella Merchant-A Garota De Sorrisos Ensaiados é uma web novela criada originalmente por Thais Ribeiro, uma garota de apenas 17 anos. A história é resumida basicamente em sofrimento, onde no começo se inicia contando o pior dos sofrimentos vividos pela garota Stella. Sendo assim, a mesma cresce amargurada e acaba por se transformar em uma garota de sorrisos ensaiados no qual tem como explicação a falta de motivos para sorrir.




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